Publicado por: mequetrefetrefe | março 19, 2009

O difícil universo feminino.

” Tenta sim….vai ficar lindo!!! ” 


Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão das amigas, render-me à depilação na virilha.  Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim.
Disseram que meu namorado iria amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa.
Eu imaginava que iria doer, mas não esperava que por trás disso havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
 
– Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
– Vai depilar o quê? 
– Virilha.
– Normal ou cavada?
 
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada! Mas já que era  pra fazer, quis fazer direito.
 

 Este texto que circula faz algum tempo na rede, creio que retrata muito bem sobre o que é uma primeira experiencia com cera. (Eu que o diga, lembro como se fosse hoje).

– Cavada mesmo.
– Amanhã, às… Deixa eu ver… 13h?
– Ok. Marcado.
 
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisa leve.
Sabia lá o que me esperava?
Coloquei roupa bonita pra ficar chique e uma calcinha bastante apresentável.
E lá fui eu.
Assim que cheguei, Penélope estava esperando.
Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor.
De um lado a parede, e do outro, várias cortinas brancas.
Por detrás delas, ouviam-se gemidos, gritos, conversas.
Uma mistura de Calígula com O Albergue.
Jaí senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão.
Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada por cortinas.
 
– Querida, pode deitar.
 
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo!  De repente ela aparece com um barbante na mão.  Fingi naturalidade, que sabia o que ela faria com aquilo. Fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
 
– Quer bem cavada? 
– É… é, isso.
 
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentá-lo antes.
 
– Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
– Ah, sim, claro.
 
Claro nada! Não entendia nada do que ela fazia, mas confiei. 
 
Foi e voltou da mesa de tortura com uma espátula melada com um líquido viscoso e
quente (via pela fumaça).
 
– Pode abrir as pernas.
– Assim?
– Não, querida! Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois  joga cada perna pra um lado.
– Arreganhada, né?
 
Ela riu. Que situação! E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. 
Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto.  Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para um hospital. Tudo isso, buscando me concentrar em minha expressão.
Fingir que era tudo super natural! 
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa.  Eu havia esquecido de respirar. 
Tinha medo de que doesse mais.
 
– Tudo ótimo comigo. Disse eu.
 
Ela riu de novo como quem pensa “que garota estranha”. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. 
O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancá-la.  Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação. Imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam porque deviam estar cansadas de sofrer sozinhas. Só pode ser isso!
 
– Quer que tire dos lábios?
– Não, eu quero só virilha, bigode não.
– Não, querida, os lábios dela aqui, óóó!!!
 
 
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia! Mas topei.
Não bastasse a minha condição de pânico total, a depiladora do lado invade o cafofinho da Penélope e dá uma conferida na Abigail.
 
– Tá ficando linda essa depilação, Pe.
– É, mas tá cheio de pêlo encravado aqui. Olha bem de perto…
 
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam com os rostos quase dentro!! Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo.
 “Me leva daqui, Deus, me teletransporta”.  Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
 
– Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
– Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, nem tô sentindo nada.

 
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça maldita arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
 
– Vamos ficar de lado agora?
– Hein?
– Deitar de lado pra fazer a parte cavada.
 
Pior não podia ficar. Obedeci. Deitei de ladinho e fiquei esperando pelas novas ordens.
 
– Segura sua bunda aqui?
– Hein?
– Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
 
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista!!  Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la.
Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo.
O marido perguntaria:
 
– Tudo bem, Pê?
– Mais ou menos. Sonhei de novo com o fiofó de uma cliente. 
 
Mas de repente fui novamente trazida à realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando minhas torres gêmeas. Não sabia se sentia mais medo da puxada ou com vergonha da situação. 
Mas por que me preocupar? Ela deveria ver uns mil ânus por mês!
Aliás, isso até aliviava minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos?  E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento! Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora.
Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem mais uma preguinha pra contar a história. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces…tudo junto.
 
– Vira agora do outro lado.
 
Pô… por que ela não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piorou.  A depiladora da salinha ao lado novamente abre a cortina.
 
– Penélope, empresta um chumaço de algodão?
 
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais.  Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém iria ver o olhinho tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
 
– Terminamos. Vire…vou passar a maquininha.
– Máquina de quê?!
– Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
– Dói?
– Dói nada.
– Tá, passa essa merda…
– Baixa a calcinha de novo.
 
Foram dois segundos de choque. Como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho?  Mas o choque foi substituído pela total redenção. 

– Prontinha. Posso passar um talco?
– Pode. Vai lá, deixa a bicha grisalha.
– Tá linda! Pode namorar muito agora.
  

Namorar… namorar… eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso.  Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas.
Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso.
Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação. Alguém me acompanha?

Acho que quem já teve esta experiencia entende perfeitamente a Cláudia Ohana.

Acho que quem já teve esta experiencia entende perfeitamente a Cláudia Ohana.

 

 

 

 

 

 


Respostas

  1. Cara quase morri de tanto rir.
    meus pesames pelo sofrimento e constragemento rsrsrsrs… não quero passar por isso nunca…


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